ROCHESTER, Minnesota – O mês de junho marca o 40º aniversário do primeiro relatório científico descrevendo a pneumocistose, que depois passou a ser conhecida como síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, mais de 32 milhões de pessoas morreram em todo o mundo de AIDS e 38 milhões de pessoas vivem com HIV, o vírus causador da doença.
“Os últimos 40 anos da epidemia de HIV nos deram uma visão aprofundada da sociedade, da ciência, da medicina e dos impactos socioeconômicos das doenças nas comunidades e nos países. O primeiro relatório foi publicado há quarenta anos”, diz Stacey Rizza, M.D., médica de doenças infecciosas e pesquisadora de HIV da Mayo Clinic.
O HIV é uma infecção sexualmente transmissível que se espalha através do contato com sangue, sêmen ou fluidos vaginais infectados. O vírus também pode ser transmitido por meio do compartilhamento de agulhas e seringas e, menos comumente, de mãe para filho.
Dra. Rizza explica o que a pesquisa descobriu e por que a AIDS é uma doença tão difícil de curar:
O que as primeiras pesquisas descobriram?
“Devido a uma ciência inovadora verdadeiramente dedicada, em poucos anos a comunidade científica descobriu que a AIDS era causada pelo HIV. Foram necessários alguns anos para descobrir como testar esse vírus. Vários anos depois, a comunidade científica foi capaz de calcular a quantidade de vírus no sangue de uma pessoa. Durante todo esse tempo, pesquisas verdadeiramente inovadoras sobre como o vírus se replica e como o sistema imunológico responde ao vírus permitiram que as empresas de biotecnologia desenvolvessem o que chamamos de medicamentos antirretrovirais ou medicamentos para diminuir a replicação viral.”
Como a medicação para tratar o HIV evoluiu?
“Em 1987, o primeiro medicamento aprovado para o HIV foi o AZT (hoje conhecido como zidovudina). Naquela época, foi o medicamento mais rápido já aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA e iniciou o mecanismo de fast-track pela FDA.
“Depois, vários outros medicamentos da mesma classe foram aprovados no início dos anos 1990. No final de 1995, bem no início de 1996, os primeiros inibidores de protease do HIV foram aprovados. Naquele momento, era possível combinar três medicamentos diferentes de duas classes diferentes e suprimir completamente a replicação do HIV.
“Nos últimos 20 anos, passamos de pessoas que tomavam vários medicamentos com muitos efeitos colaterais a muitos dos meus pacientes com HIV que agora tomam um único comprimido por dia. Essa é uma combinação de medicamentos coformulados em um comprimido por dia que é extremamente bem tolerada e suprime completamente o vírus. Sabemos que isso não elimina o vírus. Se os pacientes parassem de tomar o medicamento, o vírus voltaria. Mas agora temos uma pequena quantidade de pessoas no mundo que têm sido o que chamamos de funcionalmente curadas do HIV, o que significa que elas passaram por alguns protocolos de pesquisa que eliminaram o reservatório de HIV em seus corpos.
“Os novos medicamentos são tão eficazes para pessoas que suprimiram totalmente o vírus que muitas delas precisam usar apenas dois medicamentos para manter o tratamento e o controle do HIV. Uma nova pesquisa está investigando maneiras de administrar os medicamentos de maneira diferente, como uma injeção que dure vários meses, ou talvez algum dia, até mesmo mecanismos de administração de medicamentos implantáveis para que as pessoas não tenham que tomar o comprimido todos os dias. É muito empolgante que a terapia do HIV esteja caminhando nessa direção.”
Por que não existe cura para o HIV?
“A razão pela qual é tão difícil curar o HIV é que, uma vez que o HIV infecta o corpo de uma pessoa, ele se integra ao genoma hospedeiro de vários tipos de células. Essas células então se escondem em qualquer tecido linfoide, como os gânglios linfáticos, o fígado e o baço. E elas ficam lá como o que chamamos de “latentes” ou “ocultas”, desde que a pessoa esteja em uma terapia anti-HIV. Sempre que um vírus deixa uma célula, ele é tratado pela terapia de HIV. Mas, se a pessoa infectada interromper a terapia de HIV, o vírus latente voltará. Para curar o HIV, é necessário eliminar aqueles vírus que se escondem nas células, ou o reservatório viral latente, que é o termo correto. Existem muitas maneiras de abordar a eliminação do reservatório.”
Em que estágio a pesquisa está agora?
“Uma das formas mais populares que tem sido investigada é algo chamado — e há muitos termos diferentes para isso — “prime, shock and kill” (preparar, chocar e matar) ou “kick and kill” (chutar e matar), que é essencialmente administrar medicamentos que primeiro despertam o vírus da latência e, em seguida, encontram maneiras de tornar as células que contêm o vírus suscetíveis à morte. Quando o vírus está acordado e a célula suscetível a morrer, ela se mata, mas não mata nenhuma outra célula do corpo.
“Essencialmente, as células infectadas com HIV são especificamente selecionadas e eliminadas sem prejudicar mais nada. Esta nova ciência é empolgante. Ela está cada vez mais próxima de entender como fazer isso de forma eficaz. E se for possível fazer isso com medicamentos orais em vez de terapias sofisticadas como terapia genética ou transplante de medula óssea, será possível escalar essa abordagem para grandes partes do mundo e será possível alcançar milhões de pessoas dessa forma. É nesse estágio que a área de pesquisa está: em descobrir como fazer essas células ocultas acordarem, como torná-las sensíveis à morte e como visar apenas a célula infectada pelo HIV.”
Veremos uma vacina para o HIV?
“A vacina contra o HIV tem sido uma vacina muito difícil de desenvolver. No mundo dos vírus, as vacinas se enquadram em uma de três categorias. Podem se enquadrar na categoria em que respondem aos anticorpos induzidos pela vacina e as vacinas são excelentes. Esses vírus incluem o da poliomielite, caxumba e, para nossa sorte, o SARS-CoV-2. Depois, temos a segunda categoria, como a vacina contra influenza, que tem cerca de 60 por cento de eficácia. Ela certamente salva vidas e faz diferença, mas não é perfeita. E, então, temos a terceira categoria, que na verdade representa a grande maioria dos vírus que infectam humanos. E o HIV está nessa categoria, em que simplesmente formar um anticorpo contra o vírus não é adequado para prevenir a infecção. É necessário criar uma engenharia muito sofisticada para induzir os efeitos das células T, bem como os efeitos inatos e os efeitos dos anticorpos. Mesmo assim, às vezes é muito difícil decidir qual é a parte-alvo do vírus. Depois de décadas e bilhões de dólares em pesquisas, ainda não chegamos a uma conclusão para o HIV. Tem havido muitas abordagens de como fazer isso. Muitos mecanismos de entrega científica diferentes, muitas áreas-alvo diferentes dos vírus, muitas partes-alvo diferentes do sistema imunológico e, até agora, nenhum deles foi eficaz na prevenção da infecção pelo HIV.”
O que precisa acontecer a seguir?
“Ainda precisamos diminuir o número de pessoas infectadas por meio de boas medidas de saúde pública e boa educação para deter a epidemia de HIV. Ainda precisamos fazer com que mais pessoas infectadas usem a terapia.
“Sabemos que podemos fazer isso com medidas de saúde pública. Mas também precisamos descobrir mais sobre como podemos eliminar esse reservatório e curar as pessoas do vírus de uma forma simples e eficaz para que possamos curar mais pessoas. E o último grande obstáculo que temos é desenvolver uma vacina eficaz. Ainda não temos uma vacina que possa prevenir a infecção, uma vacina preventiva ou uma vacina terapêutica que possamos dar às pessoas que já têm o vírus e que possa ajudá-los a controlar a infecção. Muita pesquisa tem sido feita, mas ainda não chegamos a uma conclusão.”
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